No artigo anterior falávamos que a força física natural
masculina é apenas um sinal de uma força interior que está baseada na vivência
de várias virtudes, sendo que a maior delas é a capacidade de fazer sacrifícios
pelo bem do outro, principalmente a capacidade de doar-se totalmente pelo sexo
oposto. Não é por acaso que os contos de fada sempre ilustram a imagem de um
cavaleiro valente e corajoso que mostra seu valor ao salvar e resgatar uma
princesa que se encontra aprisionada numa torre ou correndo grande perigo. É
justamente essa capacidade de autodoação através de atributos tipicamente
masculinos como a coragem e a bravura é que percebemos a força interior
inerente ao sexo masculino. Contudo, essa força interior tem outras aplicações
e finalidades que estão além de um simples ato heroico, mas tem a ver com a
própria vivência e aperfeiçoamento do amor na vida do homem.
Uma coisa deve ser dita antes de tudo. Os homens, em geral,
nem sempre são bem sucedidos em amar as mulheres como elas devem ser amadas. Há
várias causas que poderíamos acenar aqui para tentar entender o porque dessa “falha”
masculina. Mas duas são as causas principais, diria eu, que geralmente
atrapalham ou mesmo impedem o homem de amar uma mulher à altura de sua
dignidade. A primeira delas está diretamente ligada ao pecado original que faz
com que o homem tente sempre dominar a mulher ou mesmo transformá-la em objeto
de sua luxúria. Ou seja, a dificuldade de ver a mulher como uma maravilha da
criação divina e, dessa forma, ver nela o amor divino inscrito pelo Criador. A
segunda causa consiste na dificuldade de fazer sacrifícios pela mulher. Ou
seja, a dificuldade de usar a sua força interior para servi-la da melhor
maneira possível e, dessa forma, evitar que se caia na tentação de torná-la um
mero objeto de satisfações pessoais.
Por isso, Cristo, a respeito dessa questão, vai muito mais
além e afirma: “Eu, porém, vos digo, que
todo aquele que olha para uma mulher com luxúria comete adultério em seu
coração” (Mt 5,27-28). Para muitos de nós talvez, essa ideia de Cristo de querer
purificar cada recanto escondido na nossa mente ou imaginação pode parecer algo
impossível de realizar. Ainda mais se considerarmos o mundo em que vivemos
hoje, o modo que a sexualidade é apresentada massivamente na mídia e até mesmo
o modo liberal que a sociedade a concebe, alguém poderia questionar o próprio
Cristo e perguntar se Ele entende exatamente o que pede de nós. Eu diria que
Ele sabe exatamente o que pede de cada um de nós. Tenho a certeza que Ele nunca
nos pediria para vivermos de uma determinada maneira sem nos dar a graça
necessária para cumprir tal exigência.
Sobre isso também, o Papa João Paulo II diz que “Cristo entrega a dignidade de cada mulher
como sendo uma tarefa de cada homem”. Fica claro, então, que é
responsabilidade e tarefa do homem dar a dignidade devida a mulher. E assim nos
narra a Escritura quando descreve a fascinação e o maravilhamento expressos
pelo primeiro homem (Adão) diante da primeira mulher (Eva) (cf. Gn 2,23). Essa
fascinação ocorre porque naquele momento Adão não vê sua companheira como uma
‘coisa’ a ser usada e conquistada para mera gratificação de seus desejos. Mas
ele a vê como um grande dom de Deus. Ele vê nela um convite para amá-la
verdadeiramente de tal modo que torne visível o amor de Deus naquele amor entre
os dois.
Talvez o problema que enfrentamos hoje em dia seja o fato de
que nós homens, em sua grande maioria, não saibamos mais perceber o dom do amor
de Deus inscrito nas mulheres. É preciso então, mais do que nunca,
reaprendermos a olhar para as mesmas como Deus as criou para ser. Nesse ponto o
livro do Cântico dos Cânticos nos ajuda a entender melhor esse ‘olhar’ quando o
autor retrata o modo pelo qual o homem se refere à mulher usando a expressão “minha irmã, minha amada” (cf. Ct 4,9). A
razão pela qual o homem se refere à mulher dessa maneira é porque ele vê a sua
amada como uma de suas irmãs em humanidade. Se trouxermos isso para o nosso
cotidiano facilmente entendemos que irmãos (homens) sempre querem o melhor para
suas irmãs. Em outras palavras, irmãos não vêem suas irmãs como objetos de
posse ou uso.
Portanto, se os homens querem aprender a amar as mulheres
verdadeiramente, precisam ver nas mulheres essa humanidade infundida por Deus
que as determina primeiramente como irmãs em humanidade e dignidade. Mas querer
é apenas uma decisão. E isso é apenas o primeiro passo. É preciso ainda uma
total transformação do coração. E isso é um processo. E é somente morrendo para
si mesmo é que se consegue isso. É morrendo para si mesmo é que se torna um
homem de verdade.
Já falamos em outro artigo que Jesus Cristo é o verdadeiro
modelo de masculinidade. Ele é o homem que mais viveu o ‘ser homem’ neste mundo,
e isso ele o fez morrendo para si mesmo a fim de dar vida e dignidade à sua
esposa, a Igreja. Ele é quem nos revela a perfeição do amor. É através dele que
cada homem pode chegar a viver essa perfeição do amor através do uso da força
interior que leva cada homem a sacrificar-se e servir. Portanto, é amando as
mulheres dessa maneira é que os homens tornam o amor de Deus visível. Um amor
que não é abstrato, mas que é um grande desafio para todo homem. Um amor que um
dia Deus ensinou a todos os homens através do serviço e sacrifício do seu
próprio Filho.
Pe. Idamor da Mota Júnior
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