No último artigo falávamos do mistério que é intrínseco da
alma feminina e de que como esse mistério deve ser guardado como algo sagrado e
deve ser aproximado com reverência e gratidão. Esse mistério feminino revela na
sua profundidade a dignidade da mulher. Hoje em dia esse mistério parece estar
totalmente desvelado por causa dos conceitos e contra-valores que se inseriram
na sociedade atual. Como se chegou a esse ponto? O que deve ser resgatado?
Analisemos sob o seguinte ponto de vista. Por causa dos
efeitos do pecado original uma mulher pode deixar de lado sua natureza
misteriosa, – e isso reflete geralmente no seu corpo e na sua sexualidade – e
preferir aceitar satisfações passageiras da parte daqueles que não a olham mais
com reverência. Hoje em dia a mulher, em geral, não conhece mais esse mistério
interior que possui e porque não sabe mais onde reside sua dignidade, ela sente
um vazio interior que geralmente não percebe, então ela começa a buscar algo
que a preencha interiormente. Ao invés de esperar para revelar-se no tempo
certo e para quem é digno de tal, ela se expõe para aqueles que não têm direito
de vê-la. Esse processo de desconstrução da sua própria dignidade pode começar com
a falta de modéstia no vestir e no falar, mas gradativamente vai progredindo
até alcançar o flerte sensual e a exposição total de seu corpo e sua
sexualidade. Nesse processo, a mulher pode achar-se muito confiante do que está
fazendo e pensar que está no controle da situação até ao ponto de achar que,
fazendo do seu corpo e de si mesma um objeto de desejo sexual, ela se torna
muito mais importante e mais “mulher”. Mas isso, no fundo, só revela a sua
insegurança pessoal. Ao não se dar conta do seu grande valor e de sua
verdadeira dignidade ela, muitas vezes, aceita ser tratada sem reverência
alguma em relação ao mistério que existe em si mesma. Daí ela ser tratada, na
ótica masculina machista e vulgar, como um “entretenimento ambulante”, algo a
ser cobiçado e “usado”.
Infelizmente, a mídia moderna contribui para saturar o
público feminino mais jovem com a mensagem de que seu valor é determinado
através de como reagem os homens em relação à sua pessoa. E essa reação é
sempre no sentido da sensualidade. Daí a massiva exposição do corpo feminino como
mercadoria e atrativo de publicidade em quase tudo que se vê na mídia. Ao
receber essa mensagem, a mulher, meio que inconsciente, vai buscar sempre usar
seu corpo como um meio de receber essa afirmação que ela tanto busca. Com
relação a isso a escritora norte-americana Wendy Shalit escreveu: “Não há mais nenhum mistério envolvido em
matéria de sexo – simplesmente se espera que tudo tenha uma conotação sexual.
Não há mais nada a se esperar ou desejar. Alguém que está quase nua em frente
de estranhos... tem muito pouco a revelar ao seu amado” (Wendy Shalit, A Return to Modesty, p. 175).
A verdade é que, quando o segredo mais profundo da
intimidade de uma mulher é revelado ou tomado à força, ela pode achar que não
resta mais nada a oferecer, então começa a agir como se esse segredo não
existisse mais. Mas ao contrário do que se pensa, esse segredo da intimidade
feminina permanece vivo dentro dela, porque pertence a ela, e é dom de Deus.
Nesse caso, a mulher precisa saber que ela ainda não se revelou completamente a
alguém, porque seu mistério ainda não foi esgotado. Um dom só é dom quando dado
com total consentimento. Nesse caso, seu maior dom a ser oferecido é o seu
próprio ser. E se esse dom de seu mistério não foi realizado conscientemente
dentro da atmosfera sagrada que deve acontecer, ela não perdeu sua dignidade
enquanto mulher. Feridas podem ser curadas e pecados podem ser redimidos. O que
uma vez foi uma forma distorcida de buscar amor através da falta de modéstia no
vestir-se e da exposição do corpo e da sexualidade, pode tornar-se, através do
resgate da verdadeira dignidade, um convite para se viver um autêntico amor. Até
o desespero pode ser transformado em esperança quando uma mulher descobre seu
incomensurável valor que reside dentro de si, não importando o seu passado.
Tudo depende de como ela vê a verdade de quem ela é aos olhos de Deus, e não
dos homens. E Deus confiou a ela a missão de ser a mestra de seu próprio
mistério. Esse mistério revela uma coisa e uma única coisa: que a mulher merece
ser amada verdadeiramente. Uma vez ciente desse mistério íntimo inscrito em seu
próprio corpo e sabendo de seu tremendo valor, ela revela-o somente ao homem
que está a altura de amá-la dignamente, ao homem que está disposto a doar sua
própria vida por ela para sempre, ao homem que é digno de ser seu marido.
Pe. Idamor da Mota Jr