sábado, 30 de março de 2013

Mistérios Devem ser Revelados e não Expostos


No último artigo falávamos do mistério que é intrínseco da alma feminina e de que como esse mistério deve ser guardado como algo sagrado e deve ser aproximado com reverência e gratidão. Esse mistério feminino revela na sua profundidade a dignidade da mulher. Hoje em dia esse mistério parece estar totalmente desvelado por causa dos conceitos e contra-valores que se inseriram na sociedade atual. Como se chegou a esse ponto? O que deve ser resgatado?
Analisemos sob o seguinte ponto de vista. Por causa dos efeitos do pecado original uma mulher pode deixar de lado sua natureza misteriosa, – e isso reflete geralmente no seu corpo e na sua sexualidade – e preferir aceitar satisfações passageiras da parte daqueles que não a olham mais com reverência. Hoje em dia a mulher, em geral, não conhece mais esse mistério interior que possui e porque não sabe mais onde reside sua dignidade, ela sente um vazio interior que geralmente não percebe, então ela começa a buscar algo que a preencha interiormente. Ao invés de esperar para revelar-se no tempo certo e para quem é digno de tal, ela se expõe para aqueles que não têm direito de vê-la. Esse processo de desconstrução da sua própria dignidade pode começar com a falta de modéstia no vestir e no falar, mas gradativamente vai progredindo até alcançar o flerte sensual e a exposição total de seu corpo e sua sexualidade. Nesse processo, a mulher pode achar-se muito confiante do que está fazendo e pensar que está no controle da situação até ao ponto de achar que, fazendo do seu corpo e de si mesma um objeto de desejo sexual, ela se torna muito mais importante e mais “mulher”. Mas isso, no fundo, só revela a sua insegurança pessoal. Ao não se dar conta do seu grande valor e de sua verdadeira dignidade ela, muitas vezes, aceita ser tratada sem reverência alguma em relação ao mistério que existe em si mesma. Daí ela ser tratada, na ótica masculina machista e vulgar, como um “entretenimento ambulante”, algo a ser cobiçado e “usado”.
Infelizmente, a mídia moderna contribui para saturar o público feminino mais jovem com a mensagem de que seu valor é determinado através de como reagem os homens em relação à sua pessoa. E essa reação é sempre no sentido da sensualidade. Daí a massiva exposição do corpo feminino como mercadoria e atrativo de publicidade em quase tudo que se vê na mídia. Ao receber essa mensagem, a mulher, meio que inconsciente, vai buscar sempre usar seu corpo como um meio de receber essa afirmação que ela tanto busca. Com relação a isso a escritora norte-americana Wendy Shalit escreveu: “Não há mais nenhum mistério envolvido em matéria de sexo – simplesmente se espera que tudo tenha uma conotação sexual. Não há mais nada a se esperar ou desejar. Alguém que está quase nua em frente de estranhos... tem muito pouco a revelar ao seu amado” (Wendy Shalit, A Return to Modesty, p. 175).
A verdade é que, quando o segredo mais profundo da intimidade de uma mulher é revelado ou tomado à força, ela pode achar que não resta mais nada a oferecer, então começa a agir como se esse segredo não existisse mais. Mas ao contrário do que se pensa, esse segredo da intimidade feminina permanece vivo dentro dela, porque pertence a ela, e é dom de Deus. Nesse caso, a mulher precisa saber que ela ainda não se revelou completamente a alguém, porque seu mistério ainda não foi esgotado. Um dom só é dom quando dado com total consentimento. Nesse caso, seu maior dom a ser oferecido é o seu próprio ser. E se esse dom de seu mistério não foi realizado conscientemente dentro da atmosfera sagrada que deve acontecer, ela não perdeu sua dignidade enquanto mulher. Feridas podem ser curadas e pecados podem ser redimidos. O que uma vez foi uma forma distorcida de buscar amor através da falta de modéstia no vestir-se e da exposição do corpo e da sexualidade, pode tornar-se, através do resgate da verdadeira dignidade, um convite para se viver um autêntico amor. Até o desespero pode ser transformado em esperança quando uma mulher descobre seu incomensurável valor que reside dentro de si, não importando o seu passado. Tudo depende de como ela vê a verdade de quem ela é aos olhos de Deus, e não dos homens. E Deus confiou a ela a missão de ser a mestra de seu próprio mistério. Esse mistério revela uma coisa e uma única coisa: que a mulher merece ser amada verdadeiramente. Uma vez ciente desse mistério íntimo inscrito em seu próprio corpo e sabendo de seu tremendo valor, ela revela-o somente ao homem que está a altura de amá-la dignamente, ao homem que está disposto a doar sua própria vida por ela para sempre, ao homem que é digno de ser seu marido.

Pe. Idamor da Mota Jr

Um Mistério a Ser Revelado


       No artigo anterior falávamos sobre uma característica que é própria da masculinidade: a força física que é sinal da força interior de doar-se por alguém ou alguma causa. Agora vamos nos aventurar a adentrar no universo da feminilidade. E o ponto a ser explorado inicialmente diz respeito ao mistério que envolve o ‘ser mulher’.
Hoje em dia, a palavra ‘mistério’ é frequentemente mal interpretada como se fosse algo que não conseguimos explicar ou que não faz sentido algum para a razão humana. Mas pelo contrário, a palavra ‘mistério’ significa que podemos sim conhecer algo sobre o objeto envolto no mesmo, o que não implica que conheceremos tudo sobre ele. Porque se soubermos tudo sobre o ‘mistério’, ele deixa de ser ‘mistério’. Um mistério pode então ser definido como algo parcialmente escondido por causa de sua grande profundidade e grandiosidade. Essa definição de mistério é plenamente aplicada para Deus. Deus está velado aos nossos sentidos, mas não completamente. Ele se revela a nós constantemente e nós O conhecemos graças a essa revelação, mas não conseguimos esgotar esse conhecimento Dele por causa de Sua grandiosidade.
Dito isto, podemos afirmar que essa definição de mistério pode ser também aplicada às mulheres. A mulher, pela sua própria natureza, possui um mistério. Essa qualidade da mulher não é somente revelada através de sua personalidade feminina, mas também é algo que está estampado em seu próprio corpo. Pensemos na anatomia feminina. O fato de ter seus órgãos reprodutores escondidos dentro do seu próprio corpo já se refere a algo profundo e misterioso, algo que é pessoal e íntimo. Assim, o corpo da mulher revela verdades profundas sobre quem ela é enquanto pessoa.
Passemos a outra analogia. Se tomarmos a Bíblia como referência percebemos que a presença do sagrado está sempre envolta em mistério. No Antigo Testamento, por exemplo, encontramos a   Arca da Aliança. Dentro dela estavam guardadas as Tábuas da Lei onde estavam inscritos os Dez Mandamentos. Estes eram os objetos mais sagrados para o Povo de Israel guardados num Santuário especialmente construído para isso (o Santo dos Santos). Eram tão sagrados e misteriosos que ninguém ousava tocá-los ou mesmo vê-los, exceto os Sumo Sacerdotes que eram destinados a entrar nesse lugar sagrado uma vez ao ano. Isso nos mostra que o propósito de Deus velar a si mesmo não é o de esconder-se dos homens, mas sim de revelar Sua santidade e sacralidade.
Podemos também aplicar esse princípio à mulher, uma vez que ela é criada à imagem e semelhança de Deus, ela carrega também dentro de si esse mistério do sagrado. Contrário a todos os conceitos de moda correntes na sociedade de hoje, quando uma mulher decide cobrir seu corpo com roupas modestas e adequadas, ela o faz não porque está escondendo seu corpo dos homens. Pelo contrário, ela está mostrando aos homens a sua dignidade. Dignidade esta que, infelizmente, muitas mulheres e jovens de hoje perderam completamente o sentido. Da mesma maneira que Deus velava sua glória diante dos israelitas para revelar sua sacralidade, a mulher também deve revelar ao mundo, através de seu comportamento e de suas vestimentas, que ela é sagrada.
No livro dos Cânticos dos Cânticos encontramos uma expressão que aponta para essa dimensão feminina: “Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada” (Ct 4,12). Aqui, o corpo feminino é chamado de ‘jardim fechado’. Esta expressão, segundo os estudiosos, significa que o jardim permanece fechado para manter à distância aqueles que não têm o direito de estar presentes nele. “Fonte selada” também, no contexto antigo, significava manter lacradas as entradas dos poços, a fim de garantir uma água pura, sem contaminações.
Todas essas metáforas não querem dizer que o corpo e alma feminina são inacessíveis. Pelo contrário, elas mostram que o mistério feminino está aberto somente para aquele que é digno de entrar no mesmo. Portanto, todo aquele que quiser aproximar-se desse mistério feminino, sob a ótica do amor infundido pelo Criador, deve aproximar-se com ‘temor e tremor’, pois trata-se de um lugar sagrado. Os homens, de maneira especial os maridos, deveriam lembrar-se que é preciso a permissão de Deus para que eles possam adentrar nesse terreno sagrado. Para nossa interpretação cristã, essa permissão chama-se ‘Matrimônio’, onde o casal recebe as bênçãos de Deus para tornarem-se ‘uma só carne’. E uma vez obtida essa permissão, que os maridos se aproximem do mistério feminino sempre com reverência e gratidão. Pois trata-se de um mistério de amor que expressa não só a comunhão dos esposos entre si, mas a comunhão deles com o Criador.


Pe. Idamor da Mota Jr