segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Onde é que a Família Falha


(Artigo Publicado pelo Jornal Voz de Nazaré) 
Por: Lúcia Abreu (lmt@oi.com.br)
(A autora é psicóloga com Especialização em Terapia de Casal e Familiar.)

Uma pergunta frequente neste momento de muita mudança, de muita dúvida com relação aos valores, é como está se saindo a família na educação dos seus filhos; o que está marcando a relação dos pais com suas crianças e adolescentes. Preocupações com a possibilidade de que os filhos se envolvam com drogas, promiscuidade sexual e que os filhos não estejam preparados para a competição profissional no futuro fazem parte da rotina dos pais.

Como contrapeso ao medo de que os filhos fujam ao controle dos pais, vêm os planos, as expectativas de sucesso. Há pais capazes dos maiores sacrifícios, para manter os filhos em escolas “fortes” que lhes garantam a entrada em uma faculdade. Em função das expectativas dos pais a criança, às vezes, não tem nem tempo para brincar. Porque passa o dia entre a escola, a aula de reforço, a aula de computação e por aí a fora.

Preencher de maneira “útil” o tempo das crianças apazigua o temor dos pais de que elas fiquem “vagabundas”, irresponsáveis se deixadas por conta própria. De que, ao chegar à fase adulta, não cultivem nenhum interesse e não venham a ser bem sucedidas profissionalmente. Em tudo isso não vai nenhuma crítica aos pais, cuja tarefa de educadores hoje é dificultada pelo conflito de valores em que vivemos, e por um consumismo cada vez mais exigente. Só que eles ficariam mais tranquilos se considerassem que o jovem entra no círculo da droga quando lhe é mais fácil apropriar-se dos valores do grupo que o induz a consumi-las do que apropriar-se dos valores que a família lhe oferece. É só quando a família não tem força de atração para lhe passar seus valores que os valores do outro grupo ficam mais atraentes.

Onde a família falha?Por exemplo, na atribuição de responsabilidades que dêem ao filho o sentido de seu próprio valor. Pouquíssimas crianças e jovens têm responsabilidades em casa; pouquíssimos são vistos, no contexto familiar, como indivíduos com alguma contribuição a dar na vida da família. Desde pequena, a criança se acostuma a ser servida o tempo todo, a contar com uma mãe que se esfalfa levando os filhos de uma atividade para outra, enquanto o pai arca com o custo enorme dessas atividades. Ela, a criança, parece existir só para ser servida. Sua única obrigação é tirar boas notas na escola e sair-se bem nas demais atividades fora de casa. Muitos dos que enfrentaram dificuldades econômicas na infância e na adolescência, empenhados em dar uma vida melhor aos filhos, só lhe pedem uma coisa: que estudem. Eles não levam em conta que são as trocas - quando também fazem a sua parte no cuidado da casa, dos outros irmãos, do que é de todos - que começam a preparar os filhos para a vida.

Por que é que em nossa sociedade existe uma crise da adolescência? Um dos motivos é porque o adolescente ainda não tem idéia de qual poderia ser sua função social. Esse processo começa em casa, num contexto em que todos têm o que dar e receber, em que todos têm condições de cuidar e ser cuidados.

Por falta dessa base, porque não houve um treino adequado de dar e receber desde a infância, a adolescência muitas vezes se prolonga além da conta em nossa sociedade. O indivíduo já adulto continua achando que merece uma série de regalias, de privilégios, sem precisar dar nada em troca. O que, na realidade, revela um grande medo de assumir a própria vida.

O Mistério de Deus nas Pessoas que Sofrem



Por Franco Previte (Publicado por Zenit)

Em 13 de maio de 1992, O Santo Padre João Paulo II instituiu o “Dia Mundial do Doente”, a ser lembrado em 11 de fevereiro de cada ano, dia da Beata Virgem Maria de Lourdes.
O objetivo desta iniciativa era sensibilizar o cristão e a sociedade leiga para a necessidade de dar aos enfermos uma assistência adequada.
Papa Wojtyla queria dar a compreender que sua tarefa era a de estarem sempre próximos daqueles que sofrem, seguindo o exemplo de Maria, Mãe de Jesus, ao pé da cruz.
Em nossos dias, muitos se questionam a validade da idéia de cada homem ser imagem e semelhança de Deus, mas é preciso nos aprofundar, por meio da razão e da ciência iluminadas pela fé, nesse misterioso reflexo de Deus naqueles que sofrem. 
Há muito tempo somos confrontados por uma cultura superficial que subtrai à razão o porquê se do sofrimento e da morte, e é necessário afrontar com a lógica as motivações que cada pessoa porta em sua consciência, enquanto aumenta o permissivismo desenfreado e aberrante que dilacera, mortifica e modifica a dimensão ética da vida.
Em uma sociedade complexa como a nossa, é importante que nos perguntemos quem é nosso próximo.
Nosso próximo é quem está ao nosso lado em nossa vida cotidiana, aquele com quem cruzamos pelas ruas de nossa cidade, mas também principalmente aquele que sofre e não pode contar com solidariedade.
É o caso de mencionar o que ocorre nas enfermarias italianas, onde os pacientes por vezes são dispensados sem uma adequada proteção alternativa, porque o orçamento disponibilizado para o tratamento daquele doente é insuficiente.
É como se dissesse: “está velho, e já não deve viver!” – isto é eutanásia!
Em casos assim, são violados direitos fundamentais da pessoa, e constituem autêntica omissão de socorro, um crime previsto em lei.
Diante dos ensinamentos do Magistério da Igreja, da Mensagem do Papa para o 18º Dia Mundial do Doente que se celebra hoje, e diante das graves considerações que mencionei brevemente, urge remover e resolver os problemas de caráter social a que estão submetidas tantas famílias, pois a família constitui o motor universal da sociedade civil, e seus membros, em qualquer condição de saúde, devem ter acesso a uma efetiva e duradoura assistência de saúde, conforme garante a Constituição italiana.
É necessário tomar consciência do significado do sofrimento, lembrado todos os anos em cada Dia Mundial do Doente.
Gostaria de concluir com as sábias e pertinentes palavras do Papa Ratzingher em sua Mensagem de 3 de dezembro de 2009: “no atual momento histórico-cultural, faz-se ainda mais importante uma presença eclesial atenta e capilar junto aos doentes”, “na tutela da vida humana em todas as suas fases, desde sua concepção até seu fim natural”.

* Franco Previte é presidente do Cristiani per servire (http://digilander.libero.it/cristianiperservire)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Definição do amor humano

Definição do amor humano
Fala-se hoje em dia muito de amores e, mais concretamente, de uniões sentimentais, mas muito pouco de amor, o que suscita uma grande confusão. A qualquer relação superficial e passageira damos-lhe o nome de «amor». Uma das formas mais representativas do amor é a que se pratica entre o homem e a mulher. A análise desse encontro, seus labirintos, as brechas por onde se deixa entrever, oferecem-nos uma série sucessiva de paisagens psicológicas muito interessantes, que ilustram o que é e em que consiste realmente o amor, já que falamos dele sem grande propriedade.
Há que voltar a descobrir o seu verdadeiro sentido, ainda que seja uma questão impopular e difícil de conseguir. Há que recuperar o termo no seu sentido teórico e prático, voltar a incluí-lo na nossa vida.
Em resumo: restituir-lhe a sua profundidade e o seu mistério. Esta é a tarefa deste capítulo e a primeira questão consiste em identificar e distinguir amor e sexo. Geralmente, em muitas relações sexuais há de tudo, menos amor autêntico, por mais que lhe apliquemos esse qualificativo; na realidade é paixão, pelo que desde logo não é amor. É claro que num mundo em crise de valores como é o nosso tudo vale, tudo é tolerável, admitimos qualquer coisa, concretamente no que se refere ao pensamento e às ideias.
O amor humano é um sentimento de aprovação e afirmação do outro, pelo qual a nossa vida adquire um novo sentido de busca e desejo de estar junto com a outra pessoa. Entre a atracção inicial e enamoramento há um grande caminho a percorrer; uns ficam a meio do trajecto; outros, prosperam e alcançam esse desejar estar junto ao outro, uma das características que definem o amor.
O que é amar alguém? O que significa? Amar outra pessoa é desejar-lhe o melhor, olhar por ela, tratá-la de forma excepcional, dar-lhe o melhor de nós mesmos. O que inicialmente atrai é a aparência física, a beleza, que logo se torna psicológica e espiritual. Em geral, podemos afirmar que o amor baseado e centrado na beleza física costuma ter um mau prognóstico. Com ele não se chega muito longe; por isso, no enamoramento, o sentimento essencial é «Necessito de ti», «És para mim fundamento de vida», «És o meu projecto». Dito em termos coloquiais: «És a minha vida». Maurice Blondel define assim o amor: «L’amour est par excellence ce qui fait être», «o amor é antes de mais aquilo que faz ser».
O que o homem necessita na vida é amor, amar e ser amado. A felicidade não é possível sem o amor. Amar outra pessoa é querer a sua liberdade, que se aproxime o mais possível dela, quer dizer, do bem. Essa é a sua grande meta. Ajudar a outra pessoa a transcender-se, ajudá-la a exteriorizar tudo, a que esteja contente e feliz com a sua existência.
Enrique RojasO Homem light
Coimbra, Gráfica de Coimbra, 1994
(excerto adaptado)
"O amor é composto de uma única alma habitando dois corpos" (Aristóteles)