segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Vitória de Cristo - Um caso surpreendente de amor à vida



‘Queria o bebê, a Vitória estava aqui, viva’
A jornalista gaúcha Joana Schmitz Croxato, descobriu aos 27 anos, em 2009, que estava grávida. A alegria, conta, foi imensa. O casamento com Marcelo Almeida Croxato, 30 anos, já chegava aos cinco anos e o sonho de aumentar a família era grande. “Ficamos muito felizes, porque já sonhávamos, esperávamos nossa filha e foi uma alegria saber que já tinha uma criança a caminho”, contou Joana ao O SÃO PAULO, em seu apartamento em Santo Amaro.

A notícia da gravidez...
A alegria do casal, a ansiedade a espera do bebê aumentou ao descobrirem o sexo, era menina, a pequena Vitória. Mais uma família crescia nesse imenso mundo, mais uma história comum, não fosse o diagnóstico inicial aos cinco meses de gestação, de acrania, uma anomalia fetal caracterizada pela ausência parcial ou total dos ossos do crânio. “Era uma situação tão difícil, em que você espera um bebê que a medicina diz que vai morrer. Então, a gente pensou: não importa, vamos esperar nossa filha em Cristo”. E assim, o nome da pequena se completou: Vitória de Cristo Schmitz Croxato. “Foi uma forma de esperança, a gente tinha fé, tínhamos esperança que algo diferente poderia acontecer, de que a medicina podia não prever tudo o que aconteceria”, disse a mãe, olhando para sua filha, nos braços do pai.
A notícia do diagnóstico veio junto com a do desemprego de Marcelo, gestor comercial, que negociou com a empresa e diante dos laudos médicos, conseguiu se manter no convênio médico. “Quando ele foi demitido, eles [empresa/convênio] já sabiam que eu estava com uma gestação mais delicada. Mandamos uma carta com os laudos da gestação e aprovaram em nos manter”, disse Joana.
Marcelo e Joana não tinham muita informação, até o diagnóstico, sobre o que era acrania, e depois, sobre anencefalia, e ainda que esta exista em diferentes graus, mas aos poucos foram se informando. “Recebemos bastante informação durante o diagnóstico, eles nos explicaram como seria a gestação e não davam muita informação sobre como o bebê poderia agir, o que poderia sentir”.
Para Marcelo, os nomes técnicos acrania, anencefalia por si só já geram preconceitos e a falta de informação leva a erros, segundo ele, como a decisão do Supremo Tribunal Federal.

Relação com os médicos...
“A minha obstetra foi muita isenta e a primeira médica que fez o diagnóstico, nos deixou muito à vontade, mas depois...”. O depois a que Joana se refere diz respeito aos especialistas em medicina fetal consultados. “Eles foram muito diretos e enfáticos em falar que o melhor era interromper a gravidez”, lembrou a mãe que preferiu não identificar os especialistas.
Marcelo lembrou que o médico disse que sua filha era incompatível com a vida e que o melhor seria antecipar o parto. “E não adianta vir com nome bonitinho, antecipação de parto aos 6 meses é aborto, porque você não dá a mínima possibilidade de a criança nascer, independentemente de quanto ela vai viver”.
Durante a gestação, Joana pesquisou e descobriu dois casos de bebês que nasceram com anencefalia e viveram mais de um ano, e mesmo os médicos desconheciam tais casos.

A decisão, o sim à vida de Vitória...
Joana disse que não teve decisão a ser tomada, a não ser a condição natural da mãe, de amar e cuidar do bebê. “Quando recebemos o diagnóstico não teve decisão, a gente queria o bebê. A Vitória estava aqui, viva, [disse colocando as mãos sobre o útero]. Eu estava bem, e a via se mexendo nos exames... A médica dizia que provavelmente o bebê ia morrer, mas eu dizia o bebê está vivo, então, a gente tem que dar a oportunidade a ela de viver”, disse a mãe. E a oportunidade foi dada.
Segundo médicos especialistas, em casos extremos, a mãe pode correr risco de morte, e precisa de acompanhamento. Joana teve um pré-natal normal, viveu uma gestação tranquila, sem dores ou sustos, disse ter buscado forças em sua fé e em Vitória para superar as dificuldades. “Comecei a perceber que ao viver a gestação e me envolver com a minha filha, eu já estava me tornando mãe, porque a mãe também vai sendo gerada com aquela criança, e pensei: talvez eu não possa cuidar da minha filha por muito tempo quando ela nascer, mas eu posso cuidar dela na gravidez”, revelou a jovem mãe.
O casal lembrou que algumas pessoas da família ficaram sem reação no início de todo o processo, mas que a atitude de esclarecer as dúvidas ajudou a todos a se unirem. “Todo mundo começou a apoiar e isso me dava muita força, as pessoas chamavam a Vitória pelo nome, davam presentinhos”.
Joana lembra com carinho do Chá de Bebê, feito aos 8 meses de gestação, por duas amigas. “Eu não sabia se fazia sentido me preparar para uma gravidez assim... mas eu dizia, tem um bebê aqui”.

Marcelo recorda que tudo foi comprado com muito carinho e dedicação, que alguns os chamavam de loucos. “Ainda desempregado, compramos tudo, o último item foi uma escova de cabelo e para uma pessoa que ia nascer sem a parte do couro cabeludo”, lembra, acariciando a mexa castanho claro do cabelo de Vitória.

A chegada de Vitória...
O parto foi cesariana. Dia 13 de janeiro de 2010. “Fiquei muito angustiada no momento do parto, tinha medo que ela falecesse muito rápido e aí quando ouvi aquele chorinho me deu uma alegria, uma paz, foi uma coisa realmente de Deus, como se a minha missão tivesse sido cumprida”, contou emocionada, agora com Vitória nos braços, e em suas mãos, os dedinhos perfeitos e gorduchos de Vitória.
A pequena “guerreira”, como chama a mãe, nasceu com 38 centímetros e 1 quilo e 785 gramas, tamanho de um bebê prematuro. Ficou cinco meses internada na Unidade de Terapia Intensiva e diária e intensamente, recebia o cuidado dos pais, já que, segundo os médicos, a qualquer momento poderia falecer. “Ter a oportunidade de cuidar dela, naquele momento foi maravilhoso”, revelou Joana.
Com duas semanas de vida, pegou uma infecção grave, tinha dificuldades respiratórias. “Por 16 dias os médicos nem a examinavam, pareciam até esperar a morte, até que um dia uma médica examinou com mais atenção, pediu hemograma, e viu-se que ela estava com infecção e anemia, deram antibiótico, transfusão de sangue e ela ficou super bem”. Aos 2 meses, Vitória começou a mamar no seio da mãe, e aos 4 fez uma ressonância magnética que tentou descrever sua condição como anencefalia incompleta — presença de tronco cerebral, cerebelo e diencéfalo, porém ausência de parênquima cerebral (córtex) —, o que caracterizaria a anencefalia.

O julgamento do STF...
O Supremo Tribunal Federal aprovou em 12 de abril deste ano, a antecipação de parto de feto anencéfalo e sobre essa decisão, Joana escreveu em seu blog (amadavitoriadecristo.blogspot.com.br). “Minha tristeza com relação à decisão do STF foi a de perceber que a criança portadora de anencefalia foi totalmente desumanizada nesta decisão, e sua vida inferiorizada e desprezada devido à sua fragilidade e brevidade... É extremamente ofensivo e desrespeitoso referir-se como um caixão ambulante a uma mulher que decide amar e respeitar a vida do seu filho... tudo isso é uma experiência intensa de vida e jamais deveria ser tratado com tanto desprezo e ignorância jurídica e científica”.

Vitória ensina a mãe...
Joana passou seu primeiro Dia das Mães na UTI e no próximo domingo espera estar com Vitória saudável nos braços. “Sinto-me uma pessoa mais sensível, mais humana e mais forte, porque quando me sentia fraca e via minha filha mesmo com um problema tão sério e expectativa de vida tão baixa, e ela lutando, mostrando um desejo de viver”. Marcelo também registrou. “O que mais me encanta nela é quanto dedica e ama genuinamente nossa filha, por entender o valor da vida”.
A entrevista terminou, o gravador foi desligado, as fotos cessaram. Restou o exemplo da pequena “guerreira” e da luta da família pela Vitória, pelas pequenas coisas, por um dia de sol.

Texto: Karla Maria Foto: Luciney Martins

domingo, 30 de junho de 2013

A Beleza Salvará o Mundo


Um dia, o famoso escritor e romancista russo Mikhailovich Dostoievsky escreveu: “A beleza salvará o mundo”. Mas como podemos entender exatamente o tipo de beleza a que ele se refere? Nas várias áreas de conhecimento humano sempre encontramos a temática da beleza, pois trata-se de um tema vasto e muito abrangente. Se olharmos para a teologia e para a Sagrada Escritura também encontramos algo relacionado ao tema.
Vamos falar de uma beleza particular que encontramos entre nós: da beleza feminina. Pesquisadores de marketing sabem que quando a imagem de uma mulher é associada a um anúncio comercial, os destinatários, sejam eles homens ou mulheres, olham para o anúncio 14 ou 15% a mais do que o normal. Simplesmente porque a beleza feminina é cativante.
Porém, os anúncios comerciais sempre buscam, de forma distorcida, atrair a atenção de um público sempre maior. A distorção que encontramos aqui é que vivemos numa sociedade onde se apela somente para  atributo do corpo feminino. No entanto, a beleza do corpo da mulher não é a única razão pela qual ela é bonita. Seu corpo revela apenas o que ela é em si mesma. Sua beleza pode ser vista em outras qualidades que possui. Sua personalidade é bela, sua voz é bela, sua delicadeza é bela. Enfim, são tantos atributos que podemos encontrar na mulher que revelam essa beleza.
Tudo o que é verdadeiramente belo nos remete também a Deus. Ele é a Beleza por excelência. Não é por acaso que as igrejas sempre foram pensadas e trabalhadas para serem agradáveis e bonitas. E quanto mais bela a igreja, mais convidativa ela é à oração e ao encontro com Deus.
O mesmo podemos falar da mulher. Nada nos céus pode se comparar à beleza de Deus e nada na terra, entre as criaturas, pode se aproximar à beleza da mulher. Por essa razão, a mulher tem um papel único de revelar Deus ao mundo.
        O problema aqui talvez seja definir como a mulher deve usar sua beleza. Hoje, mais do que nunca, o mundo precisa de mulheres que entendam o poder de sua beleza. Ou seja, da beleza que irá atrair o coração dos homens para Deus, ao invés de afastá-los Dele. E é bom deixar claro aqui que o tipo de beleza que tem maior força não é apenas um atributo físico. O bispo norte-americano Fulton Sheen uma vez disse: “A beleza externa nunca alcança a alma. Mas a beleza da alma reflete a si mesma no rosto”. É esse tipo de beleza que o mundo precisa, e as mulheres tem esse atributo particular como um verdadeiro dom de Deus.

Pe. Idamor Jr.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Teologia do Corpo - O Dom Divino nos Sacramentos


Os quatro Evangelhos nos dão testemunho claro e preciso da verdade incontestável e imutável de que Deus nos ama. E Jesus em sua vida pública repete de várias maneiras essa mesma afirmação que encontramos claramente na Epístola de São João: “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4,16). Daí podermos dizer que Deus está sempre do nosso lado e nunca contra nós. Por causa desse amor, Deus está sempre nos oferecendo a oportunidade do banquete verdadeiro onde cada homem e mulher é convidado a participar do mesmo. O problema é, como já disse em outra oportunidade, que o homem decaído não acredita mais no verdadeiro dom do banquete que Deus tem preparado para ele, mas contenta-se apenas com o lixo. Por isso, Deus exige apenas que paremos de nos alimentar de lixo e aceitemos o seu convite para participar do banquete da vida que ele nos oferece.
Na sociedade moderna há duas tendências fortes, extremistas e antagônicas, quando diz respeito ao conceito de Deus. Todos nós cristãos aprendemos que Deus é bondoso, amoroso e misericordioso. Por causa disso, alguns têm o conceito errôneo de que podem fazer o que quiserem por conta dessa misericórdia, esquecendo-se porém da Sua justiça que nunca falha. Por outro lado, temos aqueles que têm um conceito errôneo da justiça divina, e por causa disso vêem Deus como um tirano que nos trata como escravos, que está pronto a nos condenar. O problema todo reside no fato da imagem que nos apresentam de Deus e de como nos relacionamos com Ele em nossa vida.
Por isso, a melhor maneira de conhecermos Deus é através do seu Filho Jesus, simplesmente porque a sua vida foi um testemunho da presença do Pai entre os homens. Cristo veio para mostrar aos homens que Deus os ama. A vida de Cristo é um verdadeiro dom desse mesmo amor. A prova disso: “Isto é o meu corpo que é dado por vós” (Lc 22,19). Deus não quer privar ninguém de sua liberdade e nem de sua vida. A prova disso: Ele derramou seu próprio sangue para que este nos desse vida, e vida em abundância (cf. Jo 10,10). Deus não é um tirano e nem nos trata como escravos. A prova disso: Ele assumiu a forma de escravo (cf. Fl 2,7). Deus nunca pensou em nos açoitar e nem castigar. A prova disso: Ele deixou-se açoitar por cada um de nós. Em suma, Ele não veio para condenar, mas para salvar (cf. Jo 3,17); não veio para escravizar, mas para libertar (Gl 5,1). Ele espera apenas que deixemos de lado nossa incredulidade e passe a crer Nele e na Boa Nova trazida pelo Filho.
Tudo isso, para dizer que a nossa humanidade precisa abrir-se à graça divina constantemente para que sejamos vivificados pela redenção oferecida por Cristo. É através dessa graça infundida em nós pelo Espírito Santo é que somos transformados e orientados para tudo aquilo que é autenticamente bom e belo.
Mas a pergunta que poderíamos fazer aqui é: “onde podemos encontrar toda essa graça da redenção”? A resposta é simples: em primeiro lugar, na vida sacramental da Igreja. Veja que os sacramentos foram instituídos por Cristo na sua Igreja não como meros rituais religiosos. Mas como diz João Paulo II, eles “injetam santidade no plano humano do homem: penetram a alma e o corpo, nossa feminilidade e masculinidade [...] com poder da santidade”. Isso quer dizer que os sacramentos são essa riqueza espiritual que encontramos na Igreja e que fazem com que o próprio Cristo, através de sua morte e ressurreição, venha habitar em nós mesmos e ser uma realidade viva em nossas vidas. Através dos sacramentos abrimos uma porta de intimidade com Deus muito maior que podemos imaginar; e por isso diz Santo Agostinho: “Deus é mais íntimo a nós que nós mesmos”.
Enfim, há muitos tratados extensos sobre os sacramentos que nos ajudam a entendê-los ainda mais profundamente, mas nada se compara ao fato de podermos vivenciá-los no dia-a-dia, de sentir exatamente quais são os efeitos da graça divina que eles infundem em nós. Mas infelizmente há ainda muitos cristãos que não entendem o poder dos sacramentos. É como se Deus tivesse depositado trilhões de reais na conta bancária de cada um, mas são poucos os que estão cientes disso e uma grande maioria parece usar somente uns poucos centavos desse valor.
São Paulo nos diz que o “amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Nos sacramentos é esse mesmo amor que é derramado por completo em nossos corações. Por isso, se quisermos amadurecer como homens e mulheres autênticos é preciso que saibamos aproveitar esse dom.
Pe. Idamor da Mota Jr. 

sábado, 4 de maio de 2013

Deus Inicia o Dom do Amor (Parte II)


No artigo anterior falávamos que uma das razões pela qual Deus deu ao homem (sexo masculino) tamanho desejo pela mulher e a ânsia de conquistá-la, deve-se ao fato de que isso é um reflexo do próprio desejo que Deus manifesta por nós. Ou seja, assim como o desejo do homem de ir em busca do sexo oposto é, geralmente, mais forte do que o da mulher, da mesma forma o desejo de Deus de estar em comunhão com cada um de nós (homens ou mulheres) é mais forte que o nosso de estar em comunhão com Ele. Em outras palavras, Deus é quem toma a iniciativa de um relacionamento conosco. Ele é quem propõe seu amor a nós. Ele é quem se oferece inteiramente por sua Esposa (a Igreja), a fim de que ela tenha vida através Dele. A Escritura nos diz que “Ele é quem nos amou primeiro” (1Jo 4,19). Portanto, é Ele quem inicia o dom do amor.
A partir dessa conclusão podemos entender então, através de um princípio analógico já descrito anteriormente, que o homem (sexo masculino), sendo criado à imagem e semelhança de Deus, é chamado de um modo único a iniciar o dom do amor e ir em busca da mulher com sinceridade de coração. Porém, se os homens forem honestos consigo mesmos, se darão conta de como são falhos ao realizar essa tarefa. Ou seja, normalmente todos os homens falham, de alguma maneira, ao tentarem viver de acordo com a verdade que existe em si mesmos. O nível dessa falha está justamente em não ir ao encontro da mulher da maneira apropriada designada pelo Criador. Aprendemos, por exemplo, na Bíblia, que Tobias tomou sua esposa com sinceridade de coração, ou seja, com um amor puro e sincero. Ao passo que, muitos homens buscam as mulheres apenas com o objetivo de satisfazer a gratificação de sua própria luxúria. Isso torna-se mais agravante ainda se levarmos em conta as palavras do Cântico dos Cânticos onde a mulher se revela como “um jardim fechado”, onde somente ela tem a liberdade de confiar ao homem as “chaves” desse lugar. Nas palavras de João Paulo II, a mulher é “mestra de seu próprio mistério”. Isso significa que nenhum homem deveria manipular uma mulher para simplesmente buscar satisfazer seus desejos sexuais, ou induzi-la ou convencê-la a entregar-lhe as “chaves” de seu mistério.
Na busca dessa manipulação, muitos homens jogam com o lado mais sensível feminino: a emoção. Muitas vezes, o homem a faz sentir-se culpada se ela não satisfaz seus desejos. Ou ainda, tenta a sedução através do afeto físico com a esperança de que ela queira partilhar seu desejo. Isso acontece com frequência, de uma maneira ou de outra, até mesmo chegar aos casos extremos do abuso físico-sexual. Mas isso não significa que as mulheres são sempre vítimas nisso tudo. Mulheres também sabem “jogar” muito bem, no sentido de que elas também sabem manipular os homens para atingir suas gratificação sociais, emocionais ou físicas. Porém, todo esse “jogo” que acontece entre os sexos é consequência do pecado presente em todos nós. No fundo de tudo isso, no coração de toda mulher e de todo homem, sabemos que todos fomos criados para um tipo de amor que supera todas essas mazelas humanas causadas pelo pecado em nós.
Há muitos motivos que poderíamos enumerar aqui que atrapalham o homem de realizar uma doação sincera e total de si mesmo ao sexo oposto. Alguns homens lutam contra a tendência de serem agressivos ou manipuladores no trato com as mulheres, outros sofrem por serem tão passivos em relação a elas. Outros ainda estão tão presos à pornografia que não sabem nem como se relacionar com as mulheres – diga-se de passagem que a pornografia hoje é uma das principais causas que levam muitos a um comportamento moral sexual totalmente desordenado. Outros ainda, têm medo de assumir um compromisso sério, por isso encontram consolo numa vida de indecisão (passividade). O medo, na verdade, está sempre presente nos relacionamentos humanos, e ele, no fundo, reflete a insegurança da auto entrega a Deus. Um rapaz, por exemplo, às vésperas da ordenação sacerdotal pode sentir a mesma apreensão que um outro às vésperas do casamento. Ou seja, compromisso requer um total dom de si mesmo, e isso não acontece naturalmente, principalmente para os homens. É preciso então um “aprendizado”, que consiste basicamente em deixar de lado a passividade e buscar realizar o dom de si mesmo aos outros, principalmente ao Outro por excelência (Deus) e ao outro do sexo oposto (mulher). Isso requer que o homem deixe de lado o medo e a tendência de pensar somente em si (egoísmo) e inicie o dom de si mesmo nos seus relacionamentos, no namoro, no casamento e na prática das virtudes.
No fundo, os desejos que o homem sente não são o problema. Ele deve permitir que Deus vá transformando sua vontade e o seu coração. Se ele tiver a coragem de fazer isso, seus desejos o impulsionarão não ao pecado, mas aos céus. Porque ao iniciar o dom do amor sincero e total, ele pode tornar visível o amor invisível de Deus, porque Deus o amou primeiro. É Ele quem inicia o dom do amor.

Pe. Idamor da Mota Júnior

Deus Inicia o Dom do Amor


Retomando a série sobre a masculinidade que já iniciei em outros artigos, hoje proponho que imaginemos a seguinte cena: um rapaz está namorando uma jovem que o convida para um jantar num restaurante à beira de uma bela praia sob a brisa do mar. Após o jantar, ela começa a falar o quanto ele significa para ela e como ela deseja passar o resto de sua vida com ele. Olhando profundamente nos seus olhos, ela apanha de sua bolsa uma pequena caixa contendo uma aliança. Ela então ajoelha-se diante dele, abre a pequena caixa mostrando a aliança e o pede para ser seu esposo.
Independente do sentimento que esse personagem (rapaz) tenha por essa moça, imaginar essa cena parece um tanto perturbadora e no mínimo estranha. A pergunta que alguém faria aqui é: “não seria papel do rapaz pedi-la em casamento?”
Embora a maioria das pessoas hoje coloca-se a favor da igualdade entre os sexos, por que parece romântico para o homem ajoelhar-se e pedir a mulher em casamento? Por que ao imaginarmos uma mulher fazendo isso parece tão estranho? Alguém poderia afirmar que isso acontece devido a condicionamentos sociais. Mas eu argumentaria que há algo muito mais profundo nisso tudo. O homem inicia o dom do amor simplesmente porque ele é homem e não porque a sociedade o orienta a fazê-lo. Iniciar o dom do amor não é algo que ele deve fazer, mas é parte do que ele é. Assim, de antemão, podemos entender que a iniciativa do amor é uma característica essencialmente masculina. Se levarmos em conta a própria anatomia humana, fica óbvio que o homem é que inicia o dom de si mesmo em relação a mulher. Ela é quem o recebe. Mas não entenda-se aqui que o papel feminino é algo passivo, mas ela é ativamente receptiva, pois ela deseja receber e retribuir o dom do amor.
Vale a pena lembrar aqui novamente que fomos criados à imagem e semelhança de Deus, o que significa que, no abismo entre nós e a divindade, há sempre uma analogia possível. Desse modo, podemos entender melhor essa iniciativa de amor por parte do homem em relação à mulher se olharmos para o mistério de amor entre as Pessoas da Santíssima Trindade. Nessa relação de amor o Pai é quem doa tudo o que tem ao Filho. Ele é quem inicia o dom amor. O Filho por sua vez é quem recebe tudo do Pai; porém não se trata de uma receptividade passiva, pois tudo o que Ele recebe ele doa de volta ao Pai. E essa reciprocidade de amor é tão intensa que dá origem a uma terceira pessoa: o Espírito Santo.
Essa reflexão aqui mencionada não quer dizer que há algo de ‘sexual’ em Deus. Não. De maneira alguma. Mas ao criar o homem e a mulher, Deus os criou com a possibilidade de expressarem em sua humanidade e em seus corpos um pouco da beleza desse amor divino. E através da união de amor entre um homem e uma mulher Deus torna visível Seu plano de amor para ambos.
Dito isto, podemos perguntar então por que os homens são tão fascinados pela beleza feminina? Ou por que os homens possuem um profundo desejo de unir-se ao que é belo? Alguém já deve ter se perguntado “por que Senhor tu me criaste com todos esses desejos?” A verdade é que, Deus colocou esses desejos dentro de cada homem por alguma razão. E a razão disso tudo é que esses desejos são na verdade a procura em cada homem por aquilo que será o mais profundo deleite dos olhos e o mais profundo desejo da alma: contemplar a beleza de Deus face-a-face. Até que aquele dia chegue, as mulheres são a prefiguração da própria beleza do céu. Daí porque os homens as acharem tão fascinantes.
As Escrituras nos ajudam a entender ainda mais esse mistério de amor principalmente se tomarmos como referência o Cântico dos Cânticos e o livro de Tobias. Esses livros nos revelam, principalmente, o plano de Deus para a sexualidade masculina. Eles deixam claro que Deus não quer acabar com a masculinidade e nem extinguir os desejos, mas sim integrá-los com o amor-doação. Quando um homem ama uma mulher verdadeiramente ele não deixa de ser fascinado por ela e nem tampouco perde o desejo sexual. Pelo contrário, ele busca integrar o desejo por ela com o desejo de fazer o que é melhor para ela. Em outras palavras, ele une o desejo (amor eros) com o amor-doação (amor agápico).
Uma das razões pela qual Deus deu ao homem tamanho desejo pela mulher e a ânsia de conquistá-la deve-se ao fato de que isso é um reflexo do próprio desejo que Deus manifesta por nós. Assim como o desejo do homem é geralmente mais forte do que o da mulher, da mesma forma o desejo de Deus de unir-se a todos nós é mais forte que o nosso por Ele. Deus é quem toma a iniciativa de um relacionamento conosco, e é Ele quem propõe seu amor a nós. Ele é quem oferece seu corpo por sua Esposa (Igreja), a fim de que ela tenha vida através Dele. Como nos diz a Escritura, “Ele é quem nos amou primeiro” (1Jo 4,19). É Ele quem inicia o dom do amor.

Pe. Idamor da Mota Júnior