Retomando a série sobre a masculinidade que já iniciei em
outros artigos, hoje proponho que imaginemos a seguinte cena: um rapaz está
namorando uma jovem que o convida para um jantar num restaurante à beira de uma
bela praia sob a brisa do mar. Após o jantar, ela começa a falar o quanto ele
significa para ela e como ela deseja passar o resto de sua vida com ele.
Olhando profundamente nos seus olhos, ela apanha de sua bolsa uma pequena caixa
contendo uma aliança. Ela então ajoelha-se diante dele, abre a pequena caixa
mostrando a aliança e o pede para ser seu esposo.
Independente do sentimento que esse personagem (rapaz) tenha
por essa moça, imaginar essa cena parece um tanto perturbadora e no mínimo
estranha. A pergunta que alguém faria aqui é: “não seria papel do rapaz pedi-la
em casamento?”
Embora a maioria das pessoas hoje coloca-se a favor da
igualdade entre os sexos, por que parece romântico para o homem ajoelhar-se e
pedir a mulher em casamento? Por que ao imaginarmos uma mulher fazendo isso
parece tão estranho? Alguém poderia afirmar que isso acontece devido a
condicionamentos sociais. Mas eu argumentaria que há algo muito mais profundo
nisso tudo. O homem inicia o dom do amor simplesmente porque ele é homem e não
porque a sociedade o orienta a fazê-lo. Iniciar o dom do amor não é algo que
ele deve fazer, mas é parte do que ele é. Assim, de antemão, podemos entender
que a iniciativa do amor é uma característica essencialmente masculina. Se
levarmos em conta a própria anatomia humana, fica óbvio que o homem é que
inicia o dom de si mesmo em relação a mulher. Ela é quem o recebe. Mas não
entenda-se aqui que o papel feminino é algo passivo, mas ela é ativamente
receptiva, pois ela deseja receber e retribuir o dom do amor.
Vale a pena lembrar aqui novamente que fomos criados à
imagem e semelhança de Deus, o que significa que, no abismo entre nós e a
divindade, há sempre uma analogia possível. Desse modo, podemos entender melhor
essa iniciativa de amor por parte do homem em relação à mulher se olharmos para
o mistério de amor entre as Pessoas da Santíssima Trindade. Nessa relação de
amor o Pai é quem doa tudo o que tem ao Filho. Ele é quem inicia o dom amor. O
Filho por sua vez é quem recebe tudo do Pai; porém não se trata de uma receptividade
passiva, pois tudo o que Ele recebe ele doa de volta ao Pai. E essa
reciprocidade de amor é tão intensa que dá origem a uma terceira pessoa: o
Espírito Santo.
Essa reflexão aqui mencionada não quer dizer que há algo de
‘sexual’ em Deus. Não. De maneira alguma. Mas ao criar o homem e a mulher, Deus
os criou com a possibilidade de expressarem em sua humanidade e em seus corpos
um pouco da beleza desse amor divino. E através da união de amor entre um homem
e uma mulher Deus torna visível Seu plano de amor para ambos.
Dito isto, podemos perguntar então por que os homens são tão
fascinados pela beleza feminina? Ou por que os homens possuem um profundo
desejo de unir-se ao que é belo? Alguém já deve ter se perguntado “por que
Senhor tu me criaste com todos esses desejos?” A verdade é que, Deus colocou
esses desejos dentro de cada homem por alguma razão. E a razão disso tudo é que
esses desejos são na verdade a procura em cada homem por aquilo que será o mais
profundo deleite dos olhos e o mais profundo desejo da alma: contemplar a
beleza de Deus face-a-face. Até que aquele dia chegue, as mulheres são a
prefiguração da própria beleza do céu. Daí porque os homens as acharem tão
fascinantes.
As Escrituras nos ajudam a entender ainda mais esse mistério
de amor principalmente se tomarmos como referência o Cântico dos Cânticos e o livro
de Tobias. Esses livros nos revelam, principalmente, o plano de Deus para a
sexualidade masculina. Eles deixam claro que Deus não quer acabar com a
masculinidade e nem extinguir os desejos, mas sim integrá-los com o
amor-doação. Quando um homem ama uma mulher verdadeiramente ele não deixa de
ser fascinado por ela e nem tampouco perde o desejo sexual. Pelo contrário, ele
busca integrar o desejo por ela com o desejo de fazer o que é melhor para ela.
Em outras palavras, ele une o desejo (amor eros) com o amor-doação (amor
agápico).
Uma das razões pela qual Deus deu ao homem tamanho desejo
pela mulher e a ânsia de conquistá-la deve-se ao fato de que isso é um reflexo
do próprio desejo que Deus manifesta por nós. Assim como o desejo do homem é
geralmente mais forte do que o da mulher, da mesma forma o desejo de Deus de
unir-se a todos nós é mais forte que o nosso por Ele. Deus é quem toma a
iniciativa de um relacionamento conosco, e é Ele quem propõe seu amor a nós.
Ele é quem oferece seu corpo por sua Esposa (Igreja), a fim de que ela tenha
vida através Dele. Como nos diz a Escritura, “Ele é quem nos amou primeiro”
(1Jo 4,19). É Ele quem inicia o dom do amor.
Pe. Idamor da Mota Júnior
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