Os quatro Evangelhos nos dão testemunho claro e preciso da
verdade incontestável e imutável de que Deus nos ama. E Jesus em sua vida
pública repete de várias maneiras essa mesma afirmação que encontramos claramente
na Epístola de São João: “Deus é amor, e
quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4,16). Daí
podermos dizer que Deus está sempre do nosso lado e nunca contra nós. Por causa
desse amor, Deus está sempre nos oferecendo a oportunidade do banquete
verdadeiro onde cada homem e mulher é convidado a participar do mesmo. O
problema é, como já disse em outra oportunidade, que o homem decaído não
acredita mais no verdadeiro dom do banquete que Deus tem preparado para ele,
mas contenta-se apenas com o lixo. Por isso, Deus exige apenas que paremos de
nos alimentar de lixo e aceitemos o seu convite para participar do banquete da
vida que ele nos oferece.
Na sociedade moderna há duas tendências fortes, extremistas
e antagônicas, quando diz respeito ao conceito de Deus. Todos nós cristãos
aprendemos que Deus é bondoso, amoroso e misericordioso. Por causa disso,
alguns têm o conceito errôneo de que podem fazer o que quiserem por conta dessa
misericórdia, esquecendo-se porém da Sua justiça que nunca falha. Por outro
lado, temos aqueles que têm um conceito errôneo da justiça divina, e por causa
disso vêem Deus como um tirano que nos trata como escravos, que está pronto a
nos condenar. O problema todo reside no fato da imagem que nos apresentam de
Deus e de como nos relacionamos com Ele em nossa vida.
Por isso, a melhor maneira de conhecermos Deus é através do
seu Filho Jesus, simplesmente porque a sua vida foi um testemunho da presença
do Pai entre os homens. Cristo veio para mostrar aos homens que Deus os ama. A
vida de Cristo é um verdadeiro dom desse mesmo amor. A prova disso: “Isto é o meu corpo que é dado por vós”
(Lc 22,19). Deus não quer privar ninguém de sua liberdade e nem de sua vida. A
prova disso: Ele derramou seu próprio sangue para que este nos desse vida, e
vida em abundância (cf. Jo 10,10). Deus não é um tirano e nem nos trata como
escravos. A prova disso: Ele assumiu a forma de escravo (cf. Fl 2,7). Deus
nunca pensou em nos açoitar e nem castigar. A prova disso: Ele deixou-se
açoitar por cada um de nós. Em suma, Ele não veio para condenar, mas para
salvar (cf. Jo 3,17); não veio para escravizar, mas para libertar (Gl 5,1). Ele
espera apenas que deixemos de lado nossa incredulidade e passe a crer Nele e na
Boa Nova trazida pelo Filho.
Tudo isso, para dizer que a nossa humanidade precisa
abrir-se à graça divina constantemente para que sejamos vivificados pela
redenção oferecida por Cristo. É através dessa graça infundida em nós pelo
Espírito Santo é que somos transformados e orientados para tudo aquilo que é
autenticamente bom e belo.
Mas a pergunta que poderíamos fazer aqui é: “onde podemos
encontrar toda essa graça da redenção”? A resposta é simples: em primeiro lugar,
na vida sacramental da Igreja. Veja que os sacramentos foram instituídos por
Cristo na sua Igreja não como meros rituais religiosos. Mas como diz João Paulo
II, eles “injetam santidade no plano
humano do homem: penetram a alma e o corpo, nossa feminilidade e masculinidade
[...] com poder da santidade”. Isso quer dizer que os sacramentos são essa
riqueza espiritual que encontramos na Igreja e que fazem com que o próprio
Cristo, através de sua morte e ressurreição, venha habitar em nós mesmos e ser
uma realidade viva em nossas vidas. Através dos sacramentos abrimos uma porta de
intimidade com Deus muito maior que podemos imaginar; e por isso diz Santo
Agostinho: “Deus é mais íntimo a nós que
nós mesmos”.
Enfim, há muitos tratados extensos sobre os sacramentos que
nos ajudam a entendê-los ainda mais profundamente, mas nada se compara ao fato
de podermos vivenciá-los no dia-a-dia, de sentir exatamente quais são os
efeitos da graça divina que eles infundem em nós. Mas infelizmente há ainda
muitos cristãos que não entendem o poder dos sacramentos. É como se Deus
tivesse depositado trilhões de reais na conta bancária de cada um, mas são
poucos os que estão cientes disso e uma grande maioria parece usar somente uns
poucos centavos desse valor.
São Paulo nos diz que o “amor
de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”
(Rm 5,5). Nos sacramentos é esse mesmo amor que é derramado por completo em
nossos corações. Por isso, se quisermos amadurecer como homens e mulheres
autênticos é preciso que saibamos aproveitar esse dom.
Pe. Idamor da Mota Jr.