No artigo anterior falávamos que uma das razões pela qual
Deus deu ao homem (sexo masculino) tamanho desejo pela mulher e a ânsia de
conquistá-la, deve-se ao fato de que isso é um reflexo do próprio desejo que
Deus manifesta por nós. Ou seja, assim como o desejo do homem de ir em busca do
sexo oposto é, geralmente, mais forte do que o da mulher, da mesma forma o
desejo de Deus de estar em comunhão com cada um de nós (homens ou mulheres) é
mais forte que o nosso de estar em comunhão com Ele. Em outras palavras, Deus é
quem toma a iniciativa de um relacionamento conosco. Ele é quem propõe seu amor
a nós. Ele é quem se oferece inteiramente por sua Esposa (a Igreja), a fim de
que ela tenha vida através Dele. A Escritura nos diz que “Ele é quem nos amou
primeiro” (1Jo 4,19). Portanto, é Ele quem inicia o dom do amor.
A partir dessa conclusão podemos entender então, através de
um princípio analógico já descrito anteriormente, que o homem (sexo masculino),
sendo criado à imagem e semelhança de Deus, é chamado de um modo único a
iniciar o dom do amor e ir em busca da mulher com sinceridade de coração.
Porém, se os homens forem honestos consigo mesmos, se darão conta de como são
falhos ao realizar essa tarefa. Ou seja, normalmente todos os homens falham, de
alguma maneira, ao tentarem viver de acordo com a verdade que existe em si
mesmos. O nível dessa falha está justamente em não ir ao encontro da mulher da
maneira apropriada designada pelo Criador. Aprendemos, por exemplo, na Bíblia,
que Tobias tomou sua esposa com sinceridade de coração, ou seja, com um amor
puro e sincero. Ao passo que, muitos homens buscam as mulheres apenas com o
objetivo de satisfazer a gratificação de sua própria luxúria. Isso torna-se
mais agravante ainda se levarmos em conta as palavras do Cântico dos Cânticos
onde a mulher se revela como “um jardim fechado”, onde somente ela tem a
liberdade de confiar ao homem as “chaves” desse lugar. Nas palavras de João
Paulo II, a mulher é “mestra de seu próprio mistério”. Isso significa que
nenhum homem deveria manipular uma mulher para simplesmente buscar satisfazer
seus desejos sexuais, ou induzi-la ou convencê-la a entregar-lhe as “chaves” de
seu mistério.
Na busca dessa manipulação, muitos homens jogam com o lado
mais sensível feminino: a emoção. Muitas vezes, o homem a faz sentir-se culpada
se ela não satisfaz seus desejos. Ou ainda, tenta a sedução através do afeto
físico com a esperança de que ela queira partilhar seu desejo. Isso acontece
com frequência, de uma maneira ou de outra, até mesmo chegar aos casos extremos
do abuso físico-sexual. Mas isso não significa que as mulheres são sempre
vítimas nisso tudo. Mulheres também sabem “jogar” muito bem, no sentido de que
elas também sabem manipular os homens para atingir suas gratificação sociais,
emocionais ou físicas. Porém, todo esse “jogo” que acontece entre os sexos é
consequência do pecado presente em todos nós. No fundo de tudo isso, no coração
de toda mulher e de todo homem, sabemos que todos fomos criados para um tipo de
amor que supera todas essas mazelas humanas causadas pelo pecado em nós.
Há muitos motivos que poderíamos enumerar aqui que
atrapalham o homem de realizar uma doação sincera e total de si mesmo ao sexo
oposto. Alguns homens lutam contra a tendência de serem agressivos ou
manipuladores no trato com as mulheres, outros sofrem por serem tão passivos em
relação a elas. Outros ainda estão tão presos à pornografia que não sabem nem
como se relacionar com as mulheres – diga-se de passagem que a pornografia hoje
é uma das principais causas que levam muitos a um comportamento moral sexual
totalmente desordenado. Outros ainda, têm medo de assumir um compromisso sério,
por isso encontram consolo numa vida de indecisão (passividade). O medo, na
verdade, está sempre presente nos relacionamentos humanos, e ele, no fundo,
reflete a insegurança da auto entrega a Deus. Um rapaz, por exemplo, às
vésperas da ordenação sacerdotal pode sentir a mesma apreensão que um outro às
vésperas do casamento. Ou seja, compromisso requer um total dom de si mesmo, e
isso não acontece naturalmente, principalmente para os homens. É preciso então
um “aprendizado”, que consiste basicamente em deixar de lado a passividade e
buscar realizar o dom de si mesmo aos outros, principalmente ao Outro por
excelência (Deus) e ao outro do sexo oposto (mulher). Isso requer que o homem
deixe de lado o medo e a tendência de pensar somente em si (egoísmo) e inicie o
dom de si mesmo nos seus relacionamentos, no namoro, no casamento e na prática
das virtudes.
No fundo, os desejos que o homem sente não são o problema.
Ele deve permitir que Deus vá transformando sua vontade e o seu coração. Se ele
tiver a coragem de fazer isso, seus desejos o impulsionarão não ao pecado, mas aos
céus. Porque ao iniciar o dom do amor sincero e total, ele pode tornar visível
o amor invisível de Deus, porque Deus o amou primeiro. É Ele quem inicia o dom
do amor.
Pe. Idamor da Mota Júnior
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