No artigo anterior falávamos sobre uma
característica que é própria da masculinidade: a força física que é sinal da
força interior de doar-se por alguém ou alguma causa. Agora vamos nos aventurar
a adentrar no universo da feminilidade. E o ponto a ser explorado inicialmente
diz respeito ao mistério que envolve o ‘ser mulher’.
Hoje em dia, a palavra ‘mistério’ é
frequentemente mal interpretada como se fosse algo que não conseguimos explicar
ou que não faz sentido algum para a razão humana. Mas pelo contrário, a palavra
‘mistério’ significa que podemos sim conhecer algo sobre o objeto envolto no
mesmo, o que não implica que conheceremos tudo sobre ele. Porque se soubermos
tudo sobre o ‘mistério’, ele deixa de ser ‘mistério’. Um mistério pode então
ser definido como algo parcialmente escondido por causa de sua grande
profundidade e grandiosidade. Essa definição de mistério é plenamente aplicada
para Deus. Deus está velado aos nossos sentidos, mas não completamente. Ele se
revela a nós constantemente e nós O conhecemos graças a essa revelação, mas não
conseguimos esgotar esse conhecimento Dele por causa de Sua grandiosidade.
Dito isto, podemos afirmar que essa
definição de mistério pode ser também aplicada às mulheres. A mulher, pela sua
própria natureza, possui um mistério. Essa qualidade da mulher não é somente
revelada através de sua personalidade feminina, mas também é algo que está
estampado em seu próprio corpo. Pensemos na anatomia feminina. O fato de ter
seus órgãos reprodutores escondidos dentro do seu próprio corpo já se refere a
algo profundo e misterioso, algo que é pessoal e íntimo. Assim, o corpo da
mulher revela verdades profundas sobre quem ela é enquanto pessoa.
Passemos a outra analogia. Se tomarmos a
Bíblia como referência percebemos que a presença do sagrado está sempre envolta
em mistério. No Antigo Testamento, por exemplo, encontramos a Arca da Aliança. Dentro dela estavam
guardadas as Tábuas da Lei onde estavam inscritos os Dez Mandamentos. Estes
eram os objetos mais sagrados para o Povo de Israel guardados num Santuário
especialmente construído para isso (o Santo dos Santos). Eram tão sagrados e
misteriosos que ninguém ousava tocá-los ou mesmo vê-los, exceto os Sumo
Sacerdotes que eram destinados a entrar nesse lugar sagrado uma vez ao ano.
Isso nos mostra que o propósito de Deus velar a si mesmo não é o de esconder-se
dos homens, mas sim de revelar Sua santidade e sacralidade.
Podemos também aplicar esse princípio à
mulher, uma vez que ela é criada à imagem e semelhança de Deus, ela carrega
também dentro de si esse mistério do sagrado. Contrário a todos os conceitos de
moda correntes na sociedade de hoje, quando uma mulher decide cobrir seu corpo
com roupas modestas e adequadas, ela o faz não porque está escondendo seu corpo
dos homens. Pelo contrário, ela está mostrando aos homens a sua dignidade.
Dignidade esta que, infelizmente, muitas mulheres e jovens de hoje perderam
completamente o sentido. Da mesma maneira que Deus velava sua glória diante dos
israelitas para revelar sua sacralidade, a mulher também deve revelar ao mundo,
através de seu comportamento e de suas vestimentas, que ela é sagrada.
No livro dos Cânticos dos Cânticos
encontramos uma expressão que aponta para essa dimensão feminina: “Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa
minha, manancial fechado, fonte selada” (Ct 4,12). Aqui, o corpo feminino é
chamado de ‘jardim fechado’. Esta expressão, segundo os estudiosos, significa
que o jardim permanece fechado para manter à distância aqueles que não têm o direito
de estar presentes nele. “Fonte selada” também, no contexto antigo, significava
manter lacradas as entradas dos poços, a fim de garantir uma água pura, sem
contaminações.
Todas essas metáforas não querem dizer que o
corpo e alma feminina são inacessíveis. Pelo contrário, elas mostram que o
mistério feminino está aberto somente para aquele que é digno de entrar no
mesmo. Portanto, todo aquele que quiser aproximar-se desse mistério feminino,
sob a ótica do amor infundido pelo Criador, deve aproximar-se com ‘temor e
tremor’, pois trata-se de um lugar sagrado. Os homens, de maneira especial os
maridos, deveriam lembrar-se que é preciso a permissão de Deus para que eles
possam adentrar nesse terreno sagrado. Para nossa interpretação cristã, essa
permissão chama-se ‘Matrimônio’, onde o casal recebe as bênçãos de Deus para
tornarem-se ‘uma só carne’. E uma vez obtida essa permissão, que os maridos se
aproximem do mistério feminino sempre com reverência e gratidão. Pois trata-se
de um mistério de amor que expressa não só a comunhão dos esposos entre si, mas
a comunhão deles com o Criador.
Pe. Idamor da Mota Jr
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