O governo da região da Lombardia, na Itália, anunciou que dará 4500 euros às mulheres grávidas para que não abortem;  para obter esse “benefício” deverão apresentar uma solicitação de  aborto motivado por problemas econômicos em um hospital ou um  consultório familiar. Neste caso a mulher receberá 250 euros mensais  durante um ano e meio. Para isso, estabeleceu-se um fundo de cinco  milhões de euros. 
Antes  o aborto era proibido simplesmente, por destruir uma vida humana  inocente e indefesa; depois passou a ser legal; agora, deve ser comprada  por uma quantia de dinheiro. Certamente não faltará alguma mulher que  procure ficar grávida para apenas faturar essa quantia. A que ponto de  desvalorização e desrespeito se chegou com a vida humana “imagem e  semelhança” de Deus!
Mas onde estão as causas mais profundas dessa medida tão assustadora? 
Entre outras coisas esta notícia mostra o desespero  a que estão chegando os governantes e economistas europeus em face do  drástico controle da natalidade que a Europa e o mundo se impõem. A  Itália tem um índice de natalidade de apenas 1,3 filhos por mulher,  quando o necessário para manter o número de habitantes, é no mínimo 2,1  filhos por mulher. Nenhum país hoje da Europa tem este número mínimo de  filhos por mulher; o que significa que as populações das nações  européias começam a diminuir drasticamente, com sérias conseqüências  econômicas. 
O  cardeal Angelo Bagnasco, arcebispo de Gênova e presidente da  Conferência Episcopal Italiana (CEI), durante a abertura, no Vaticano,  da Assembléia Plenária dos bispos italianos, realizada em maio alertou a  nação sobre o “lento suicídio demográfico ao qual a Itália está se  dirigindo”. Mais de 50% das famílias italianas atuais não têm filhos, e  entre as que têm, quase metade tem somente um e o restante, dois. Só  5,1% das famílias têm três ou mais filhos. Este dado nos ajuda a  entender o desespero do governo italiano (31 de maio de 2010 -  ZENIT.org).
Estive  em viagem pela Itália, quando da peregrinação para ver o Santo Sudário  em Turim (maio de 2010), e pudemos visitar várias cidades italianas como  Gênova, Pisa, Pádua, Veneza, Roma, Turim, Milão, etc. O que pudemos  notar de mais nítido desta vez? A grande quantidade de  africanos, em todas essas cidades. Notei isso em todas as cidades  italianas. Isso mostra que a imigração cresce em direção à Europa em  parte porque falta mão de obra para o trabalho.
Num  cenário deste tipo, onde nascem poucas crianças, e os idosos vivem mais  de 70 anos, o número de jovens diminui, não há braços fortes para  trabalhar e para pagar a Previdencia social que tem de manter as  aposentadorias para os idosos, pagar os hospitais, etc. Esta é a grande  preocupação dos economistas hoje em muitas nações. 
Os  idosos além de não poder trabalhar, gastam muitas vezes mais em saúde  do que os jovens. E quem vai pagar esta conta? Por conta disso alguns  países já aprovaram a eutanásia (Holanda, Bélgica, Luxemburgo), e assim  podem eliminar os velhos cujas vidas “já não vale a pena ser mantidas”  com altos custos. Já são cerca de 4000 eutanasiados na Holanda por ano. É  o “prêmio” que recebem da nação aqueles idosos que deram a sua vida e o  seu trabalho em função dela. Não é à toa que alguns velhinhos estão  deixando os asilos da Holanda e Bélgica e se refugiando nos asilos  alemães, porque ai não há a eutanásia.
Na  sua última Encíclica, “Caritas in veritate”, o Papa Bento XVI deixou  claro que o controle da natalidade não é fator de desenvolvimento. Vale a  pena reler o que ele disse sobre este assunto:
“Considerar  o aumento da população como a primeira causa do subdesenvolvimento é  errado, inclusive do ponto de vista econômico.” (n. 44)
“A  abertura à vida está no centro do verdadeiro desenvolvimento. Quando  uma sociedade começa a negar e a suprimir a vida, acaba por deixar de  encontrar as motivações e energias necessárias para trabalhar ao serviço  do verdadeiro bem do homem.” (n. 28)
“Os pobres não devem ser considerados um ‘fardo’, mas um recurso, mesmo do ponto de vista estritamente econômico.” (n. 35).
Nenhum  economista consegue provar que o controle da natalidade ajuda o  desenvolvimento; mas muitos provam o contrário. O dois países que mais  se desenvolvem hoje são os de maior população: China e Índia. Enquanto o  Japão tem cerca de 330 pessoas/kilometro quadrado, a América Latina tem  em média apenas 20. E todos sabemos que lá há muito menos miséria, analfabetismo,  falta de escolas, hospitais, casas, do que aqui entre nós. E o Japão  está fazendo campanha para aumentar a população.
O nosso  Brasil infelizmente está indo na mesma direção da Europa e da Itália;  mesmo sendo um país pouco habitado (20 pessoas/km quadrado) a nossa taxa  de fertilidade já está em 2,0 filhos por mulher, ou menos, o que  significa que a população brasileira dentro de poucos anos começará a  diminuir, drasticamente. E, como a população mais idosa aumenta, e com  ela o número de aposentadorias, é claro que a Previdência social terá  seriíssimos problemas também aqui, o que já se faz notar. 
A Igreja  não se cansa de alertar o mundo para esse problema; ela está sempre do  lado da defesa da vida, como disse João Paulo II: “Não tenham medo da  vida”. A lógica de Deus é esta: ”o filho é sempre uma bênção!”. Como  disse o salmista:
“Vede, os  filhos são um dom de Deus: é uma recompensa o fruto das entranhas. Tais  como as flechas nas mãos do guerreiro, assim são os filhos gerados na  juventude. Feliz o homem que assim encheu sua aljava: não será  confundido quando defender a sua causa contra seus inimigos à porta da  cidade” (Sl 126/127, 2-4).
 
